artigo escrito por Hilda Rebello, docente na Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e sócia da Comissária Sertere Ltda.
O mercado tem sido difícil para as empresas de transporte marítimo desde 2008, quando foi deflagrada a crise no comércio internacional. De lá para cá, o mundo dos negócios marítimos e por conseguinte, o do portuário já não é mais ou mesmo.
Responsáveis por cerca de 90% do transporte internacional de cargas, os transportadores marítimos, especialmente os de carga conteinerizada, viram a venda de fretes despencar, devido a retração no comércio internacional, resultando na pior crise do setor nos últimos tempos. Tal quadro, levou os armadores a graves problemas financeiros, alguns irreversíveis, como o caso da falência do armador sul-coreano Hanjin em 2016, e a tendência tem sido a das fusões, aquisições e alianças estratégicas, realizadas para contornar o excesso de capacidade dos navios.
Atualmente o mundo do transporte de contêineres se divide em três principais alianças: A The Alliance; 2M aliance e Ocean Alliance, que juntas detém mais de 75% do mercado. Estão em curso, outras alianças, e doravante, o ranking das empresas transportadoras de contêineres, não será mais medido individualmente, mas pelo número de alianças formadas por poucos integrantes operando as mesmas rotas.
Vale lembrar que nos últimos dez anos, novos mega navios, os chamados Ultra Large Container Vessels, com capacidade para transportar mais de 20 mil TEUS (medida para contêiner de 20’) tem sido construídos, numa tentativa dos armadores de diminuir custos e manter a competitividade. No primeiro semestre de 2017, três grandes navios foram lançados no mercado: O OOCL Hong Kong, com capacidade para 21.413 TEU’s; O Madrid Maersk, para carregamento de 20.568 TEU’s, e o MOL Triumph, para 20.170 TEU’s.
Ao olhar para o futuro do transporte marítimo, algumas tendências podem ser observadas. A continuidade da formação de alianças e do crescimento dos navios. A busca pela redução de custos, reformulou a indústria marítima e continua apresentando mudanças desafiadoras. Novas tecnologias foram adicionadas aos navios, especialmente os de contêineres, num esforço constante pelo aumento da eficiência. Novas formas de fazer negócios, ganhar dinheiro e se distinguir da concorrência são criadas diariamente.
Este ambiente dinâmico requer uma configuração portuária mais eficiente, especialmente para o mercado portuário brasileiro. Com a concentração, vem o poder de barganha por preços mais competitivos. Embarcações maiores, por outro lado, exigem melhor aparelhamento dos portos para recebe-las.
O recebimento dos mega navios nos portos brasileiros, é uma realidade distante, tanto pela estrutura precária, quanto pelo potencial de cargas, considerado baixo para os padrões mundiais. Para se ter uma ideia, dados da Antaq (2017), apontam uma movimentação de 8.754.600 TEU’s, com concentração de volume de 82 %, nos portos das regiões Sudeste e Sul, por onde circulam as cargas de maior valor agregado.
Para que os portos brasileiros possam fazer frente às exigências do mercado marítimo, são necessários investimentos. Para que haja investimentos, principalmente por parte da iniciativa privada, é necessário um esforço do governo, no sentido de propiciar um ambiente jurídico seguro e estável para os negócios, com forte desburocratização dos processos.
Apostar na adequação da infraestrutura de escoamento das mercadorias através da resolução dos problemas relacionados à limitação nos acessos marítimos(dragagem), infraestrutura precária no cais (equipamentos) e criar políticas de incentivo à produção e exportação, geram competitividade e são fundamentais e urgentes. Se o sistema portuário brasileiro não se adequar, corre o risco de desaparecer da rota dos grandes transportadores.
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